Espero que esta publicação seja útil para esclarecer as dúvidas gerais quanto à cirurgia bariátrica para os profissionais da área de saúde e público em geral, desmistificando o papel da cirurgia no tratamento das formas mais graves de obesidade.

Dr. Eduardo Lorena

 

A prevalência da obesidade tem aumentado dramaticamente na população. A obesidade está associada a várias doenças como a doença hipertensiva, diabetes mellitus, alterações do colesterol e triglicérides, apnéia obstrutiva do sono, alguns tipos de câncer, esteatose hepática, insuficiência coronariana, entre outras.
O tratamento da obesidade envolve orientação nutricional, dieta, mudanças comportamentais, atividade física e tratamento farmacológico em casos selecionados.
Entretanto, os resultados do tratamento clínico são insuficientes ou inadequados para os pacientes com obesidade grave, grupo este definido por aqueles com índice de massa corpórea – IMC (vide definição no artigo publicado em 05/05/2017 com o título INFORMAÇÕES SOBRE A OBSEIDADE – www.linkedin.com/pulse/informaçao-sobre-obesidade-eduardo-lorena), maior que 40kg/m² ou naqueles indivíduos com IMC maior que 35kg/m² e com doenças associadas à obesidade, como diabetes mellitus, hipertensão arterial e apneia obstrutiva do sono.
Nestas condições e nos casos onde há falência do tratamento clínico para alcançar as metas terapêuticas, está indicado o tratamento cirúrgico da obesidade ou cirurgia bariátrica. Devem ser excluídos pacientes com doenças graves; aqueles com doenças endócrinas como causas da obesidade (as doenças da tireóide não são causa de obesidade grave); pacientes usuários de drogas ou alcoólatras. A avaliação médica criteriosa deve buscar outros fatores que possam contraindicar o procedimento, como a insegurança do paciente, dúvidas quanto à efetividade dos tratamentos para perda de peso prévios, entre outros.

 

TIPOS DE CIRUGIAS BARIÁTRICAS

RESTRITIVOS

Limitam a capacidade gástrica

Banda gástrica ajustável e gastrectomia vertical (técnica de Sleeve)

Técnica experimental: gastroplastia vertical endoscópia

DISABSORTIVOS

Alteram a capacidade de digestão e/ou absorção dos alimentos

Derivação bilio-pancreática, chamada de cirurgia de Scopinaro, e duodenal switch

MISTOS

Combinação de ambas as técnicas

Gastroplastia vertical com bypass em y de Roux; quando colocado anel é denominada cirurgia de Capella ou Fobi-Capella

 

A decisão da técnica cirúrgica depende das condições clínicas do paciente, gravidade da obesidade e comorbidades apresentadas. Em todos os casos o paciente deverá, obrigatoriamente, ter pleno conhecimento das características, necessidades, riscos e limitações de cada cirurgia. Ele deverá participar de reuniões com a equipe multiprofissional e com pacientes já operados para poder ter certeza da sua decisão. A equipe é composta por cirurgião bariátrico, endocrinologista, nutricionista, psiquiatra ou psicólogo.
As técnicas mais utilizadas atualmente são o bypass e o Sleeve, sendo que este último corresponde a mais de 50% dos pacientes operados nos EUA. As técnicas banda gástrica ajustável, que já foi a mais utilizada nos EUA, todas as disabsortivas puras e a cirurgia de Capella, são cada vez menos utilizadas, sendo restritas a grupos específicos. A gastroplastia vertical endoscópica ainda é uma técnica experimental e está restrita a centros de pesquisa.
A avaliação pré-operatória deve incluir investigação clínico-laboratorial com exames de sangue, radiografia de tórax, ultrassonografia e ou tomografia do abdome, avaliação cardiológica, endoscopia digestiva com pesquisa de H. Pylori. Se o paciente apresentar descompensação clínica ou diagnóstico de novas doenças, a cirurgia deverá ser postergada.
O paciente inicia o processo de emagrecimento durante a internação, geralmente mantendo a perda de peso por até 2 anos após a cirurgia. Os pacientes com quadro de diabetes mellitus tipo 2, em sua grande maioria, melhoram imediatamente após a cirurgia. Em muitos casos os pacientes recebem alta hospitalar sem medicações hipoglicemiantes. A hipertensão arterial melhora mais lentamente, devendo-se fazer a monitorização da pressão arterial até que se decida pela modificação, ou interrupção da terapia medicamentosa anti-hipertensiva.
A alimentação na fase pós-operatória compreende várias fases, evoluindo da dieta líquida para pastosa e, depois, para sólida. Nesta fase a alimentação deve ser balanceada, objetivando o aporte calórico e vitamínico necessário. Ainda assim, a suplementação de vitaminas deve ser feita na maioria dos pacientes, de acordo com a técnica cirúrgica utilizada e sempre individualizada.
O tempo para o retorno às atividades habituais é variável dependendo do tipo de cirurgia, gravidade da obesidade e comorbidades apresentadas, sendo geralmente ao redor de 30 dias.
O acompanhamento com equipe multidisciplinar deve ser mantido para diminuir os riscos de complicações no pós-operatório e para aumentar as chances de sucesso da cirurgia.

Sugiro para obter mais informações acessar o site da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade – Abeso (www.abeso.org.br), e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica – SBCBM (www.sbcbm.org.br).