“A avaliação médica envolve não somente o diagnóstico e tratamento das doenças apresentadas, mas também a identificação de fatores de riscos para o desenvolvimento de doenças que possam ser prevenidas pela mudança comportamental, prática esportiva, redução do peso e medicações, quando necessárias, com o objetivo final de melhorar a qualidade de vida.”

EDUARDO LORENA

ENDOCRINOLOGIA E METABOLISMO | CLÍNICA MÉDICA | MEDICINA PREVENTIVA

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Eduardo Lorena

Formação Acadêmica:
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Áreas de atuação:
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CALCULE SEU IMC

O índice de massa corporal (IMC) é uma medida internacional usada para calcular se uma pessoa está no peso ideal. Desenvolvido pelo polímata Lambert Quételet no fim do século XIX, trata-se de um método fácil e rápido para a avaliação do nível de gordura de cada pessoa, sendo, por isso, um preditor internacional de obesidade adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O IMC é determinado pela divisão da massa do indivíduo pelo quadrado de sua altura, em que a massa está em quilogramas e a altura em metros.
O resultado é comparado com uma tabela que indica o grau de obesidade do indivíduo:

 

Cálculo de IMC

kg
cm

Classificação do IMC
< 16 Magreza grave
16 a < 17 Magreza moderada
17 a < 18,5 Magreza leve
18,5 a < 25 Saudável
25 a < 30 Sobrepeso
30 a < 35 Obesidade Grau I
35 a < 40 Obesidade Grau II (severa)
> 40 Obesidade Grau III (mórbida)

CURRÍCULO

2008-2010: Médico Colaborador do Grupo de Obesidade da disciplina de Endocrinologia e Metabolismo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

2008: Título de Especialista em Endocrinologia e Metabolismo pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo.

2006-2008: Especialização – Residência médica em Endocrinologia e Metabolismo no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

2006: Título de Especialista em Clínica Médica pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica.

2004-2006: Especialização – Residência médica em Clínica Médica no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

1996-2001: Graduação em Medicina na Universidade de São Paulo (FMUSP).

Corredor com 6 maratonas concluídas sendo 2 em menos de 3hs...

OBESIDADE E TRANSTORNOS ALIMENTARES

A obesidade é uma doença crônica, de prevalência e incidência progressivamente crescente. Dados da Organização Mundial da Saúde estimam em 1 bilhão o número de pessoas com sobrepeso ou obesidade no mundo, sendo pelo menos 300 milhões obesos. A obesidade é definida como o excesso de gordura em relação à massa magra corporal. Pode ser mensurada pelo índice de massa corporal (IMC) dividindo-se o peso pela altura elevada ao quadrado (IMC= Peso/Altura2).

IMC (kg/m²) DEFINIÇÃO
< 18,5 Baixo peso
18,5-24,9 Peso normal
25-29,9 Sobrepeso
30-34,9 Obesidade grau I
35-39,9 Obesidade grau II
≥ 40 Obesidade grau III

A obesidade grau III é denominada também de obesidade mórbida. Existem alguns casos onde o IMC não se correlaciona com o excesso de peso, como em atletas com grande quantidade de massa magra (exemplo, fisiculturistas, levantamento de peso, algumas artes marciais), ou refletem peso normal com excesso de gordura corporal em relação à massa magra (“falsos magros”).

Existem outras formas de mensuração do excesso de peso corporal que podem ser utilizadas na prática clínica, como a medida da circunferência abdominal, com valores normais dependendo da população avaliada (os valores são diferentes de acordo com o sexo e etnia); a avaliação corporal por bioimpedância e a densitometria de corpo inteiro (mensuram a quantidade de massa gorda e massa magra).

A obesidade aumenta o risco de desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, e outras doenças, como o câncer, contribuindo para o declínio da longevidade dos indivíduos obesos.

Dieta, mudanças comportamentais e atividade física fazem parte da abordagem inicial para o tratamento da obesidade. O tratamento farmacológico, quando indicado, deve ser complementar às modificações no estilo de vida para facilitar a perda de peso e prevenir reganho do peso.

HIPOTIREOIDISMO

O hipotireoidismo é definido pela diminuição da produção de hormônios tireoidianos. Os hormônios tireoidianos são o T3 (triiodotironina) e o T4 (tetraiodotironina), produzidos na tireóide sob regulação do TSH (hormônio tireotrófico) que por sua vez é produzido na hipófise (glândula localizada na base do crânio sendo também denominada glândula pineal). As formas metabolicamente ativas dos hormônios tireoidianos são o T3 livre e o T4 livre (o livre é por estarem ligados a proteínas plasmáticas, sendo a principal a albumina).

As ações dos hormônios tireoidianos estão descritas na tabela abaixo.

EFEITOS DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS
SISTEMA AÇÃO
Aparelho cardiovascular ↑ contratilidade, ↑ frequência cardíaca
Aparelho respiratório Mantém “drive” respiratório
Trato Gastro-intestinal ↑ contratilidade
Ossos Crescimento e maturação óssea, ↑ turnover
Sistema Neurológico Desenvolvimento do sistema nervoso central
Sistema Muscular Catabolismo muscular, ↑ velocidade de contração muscular
Sistema Endócrino ↑ produção hepática de glicose, ↓ LDL colesterol
Geral Catabolismo, ↑ produção de calor

A manifestação clínica do hipotireoidismo depende de vários fatores como a idade do paciente, tempo de instalação da doença e presença de outras doenças. Os principais sintomas do hipotireoidismo são:

  • Pele seca
  • Queda de cabelo
  • Unha quebradiça
  • Intolerância ao frio
  • Edema
  • Diminuição da sudorese
  • Ganho de peso
  • Parestesia
  • Pele fria
  • Constipação intestinal
  • Rouquidão
  • Lentificação
  • Depressão

Outros sinais associados:

  • Diminuição da frequência cardíaca
  • Diminição da acuidade auditiva

Os sintomas tendem a ser mais intensos nos casos mais graves, mas não raro são observados valores muito alterados nos exames laboratoriais e pouca sintomatologia ou, o contrário, pacientes muito sintomáticos com exames discretamente alterados.

CLASSIFICAÇÃO DO HIPOTIREOIDISMO
PRIMÁRIO Tireóide
SECUNDÁRIO Hipófise
TERCIÁRIO Hipotálamo
O hipotireoidismo secundário e o terciário são também denominados hipotireoidismo central.

As causas de hipotireoidismo estão descritas abaixo.

HIPOTIROIDISMO PRIMÁRIO

  • Causa mais frequente (cerca de 99% dos casos).
  • Etiologia: doença auto-imune;
  • Tiroidite crônica linfocítica = tiroidite de Hashimoto (proporção de 10 mulheres para cada homem);
  • Anticorpo anti-tiroperoxidase (anti-TPO) positivo;
  • Anticorpo anti-tireoglobulina (anti-TG) geralmente positivo.

Outras causas:

  • Tiroidites subagudas (evolução auto-limitadas);
  • Deficiência de Iodo – Bócio Endêmico;
  • Hipotiroidismo congênito (raro - 1/3500-4500 recém-nascidos);
  • Disgenesias – Agenesias;
  • Disormonogêneses;
  • Medicamentos;
  • Cirurgia; radioiodoterapia; radioterapia.

 

Hipotiroidismo central (hipófise ou hipotálamo):

0,005% na população geral

  • Hipotiroidismo secundário – hipófise
    • Alteração congênita: defeito genético de desenvolvimento;
    • Alteração adquirida: tumor hipofisário.
  • Hipotiroidismo terciário – hipotálamo
    • Alteração adquirida: tumor, doenças granulomatosas, irradiação crânio, cirurgia.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL HIPOTIREOIDISMO
  TSH T4 LIVRE ANTI-TPO/ANTI-TG
NORMAL 0,45-4,0* 0,6-1,8* NEGATIVOS
SUB-CLÍNICO AUMENTADO NORMAL VARIÁVEL
LEVE AUMENTADO DISCRETAMENTE DIMINUÍDO VARIÁVEL
GRAVE MUITO AUMENTADO DIMINUÍDO VARIÁVEL
CENTRAL NORMAL, BAIXO OU DISCRETAMENTE AUMENTADO DIMINUÍDO OU MUITO DIMINUÍDO GERALMENTE NEGATIVO
  • Os valores de referência podem variar de um laboratório para outro.

O tratamento do hipotireoidismo é feito através da uso da levotiroxina. O objetivo é a normalização do nível do TSH no hipotireoidismo primário e normalização do T4 livre no hipotireoidismo secundário.

INDICAÇÕES DE RASTREAMENTO
Recém-nascido (Teste do pezinho)
Gestantes
Pacientes com sintomas de hipotireoidismo
Depressão
Elevação do LDL colesterol e redução do HDL colesterol
Galactorréia
Apnéia obstrutiva do sono
A cada 5 anos em pacientes com mais de 35 anos
Medicações: lítio, amiodarona, citocinas
Radiação cervical

DIABETES MELLITUS

 
O diabetes mellitus é um conjunto de doenças caracterizadas pela hiperglicemia (elevação da glicose sanguínea) decorrentes de diversas patologias que resultam em deficiência da secreção da insulina, em aumento da resistência à ação da insulina, ou ambos os mecanismos. A insulina é um hormônio produzido pela célula β pancreática, que exerce várias funções metabólicas, sendo a principal o estímulo da captação da glicose pelas células do corpo. A hiperglicemia crônica resulta em danos a diversos órgãos como os olhos, coração, rins, artérias e nervos. O objetivo do diagnóstico e tratamento do diabetes mellitus é prevenir a ocorrência destas complicações.

O diabetes mellitus é um dos principais problemas de saúde na atualidade. A sua incidência e prevalência vem aumentando progressivamente na população. O aumento da expectativa de vida, do sedentarismo e do excesso de peso (sobrepeso e obesidade) na população são alguns dos fatores que contribuem para isso.
 

FATORES DE RISCO PARA O DIABETES MELLITUS TIPO II
Idade maior que 45 anos
Obesidade
História familiar de diabetes
Etnia (negros, asiáticos)
Hipertensão arterial
Colesterol HDL menor que 35 e/ou triglicérides maior que 250
História de diabetes gestacional ou feto macrossômico (grande)
Alterações prévias na regulação da glicose

 
Os principais tipos de diabetes são o diabetes tipo I e o tipo II. O diabetes mellitus tipo I é caracterizado pela destruição das células β pancreáticas levando a uma deficiência absoluta na secreção de insulina, sendo de causa auto-imune ou idiopática. O diabetes mellitus tipo II pode ser decorrente de aumento da resistência insulínica com deficiência relativa da produção de insulina (menos que o necessário para evitar a hiperglicemia) ou predomínio da secreção inapropriada de insulina (deficiência absoluta na secreção de insulina) associada à resistência insulínica.

A tríade clássica caraterizada por emagrecimento, aumento da sede (polidipsia) e aumento do volume urinário (poliúria) é observado na maioria dos pacientes com diabetes mellitus tipo I. Entretanto, a minoria dos pacientes com diabetes tipo II apresentam estes sintomas sendo a maioria dos pacientes assintomáticos ou oligossintomáticos. Neste segundo grupo o diagnóstico é feito através dos exames de rotina ou check-up, na realização da glicemia como parte da investigação de outras doenças, ou na manifestação de complicações do diabetes mellitus.
 

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DE DIABETES MELLITUS
  1. Sintomas de diabetes associados à glicemia causal ≥ 200mg/dl.

A glicemia casual é definida como qualquer glicemia ao longo do dia independente do horário da última refeição.

Os sintomas clássicos do diabetes incluem a poliúria, polidipsia e perda de peso inexplicada.

  1. Glicemia de jejum ≥ 126mg/dl.

O jejum é definido como ausência de ingesta calórica por pelo menos 8hs

      ou

  1. Glicemia 2hs ≥ 200mg/dl no teste de tolerância à glicose oral.

O teste de tolerância à glicose oral é realizado em jejum com a administração de 75g de glicose dissolvida em água conforme preconizado pela OMS (Organização Mundial de Saúde).

Os critérios 2 e 3 devem ser confirmados em dias separados.
 
Uma vez diagnosticado o diabetes o tratamento deve ser iniciado. O objetivo do tratamento é controlar a glicemia e as condições associadas para amenizar ou prevenir as complicações do diabetes mellitus.

CIRURGIA BARIÁTRICA

A prevalência da obesidade tem aumentado dramaticamente na população. A obesidade está associada a várias doenças como a doença hipertensiva, diabetes mellitus, alterações do colesterol e triglicérides, apnéia obstrutiva do sono, alguns tipos de câncer, esteatose hepática, insuficiência coronariana, entre outras.

O tratamento da obesidade envolve orientação nutricional, dieta, mudanças comportamentais, atividade física e tratamento farmacológico em casos selecionados.

Entretanto os resultados do tratamento clínico são insuficientes ou inadequados para os pacientes com obesidade grave, grupo este definido por aqueles com índice de massa corpórea - IMC (vide definição no artigo sobre OBESIDADE) maior que 40kg/m² ou naqueles indivíduos com IMC maior que 35kg/m² e com doenças associadas à obesidade, como diabetes mellitus, hipertensão arterial e apnéia obstrutiva do sono.

Nestas condições e nos casos onde há falência do tratamento clínico para alcançar as metas terapêuticas, está indicado o tratamento cirúrgico da obesidade ou cirurgia bariátrica. Devem ser excluídos pacientes com doenças graves; aqueles com doenças endócrinas como causa da obesidade (as doenças da tireóide não são causa de obesidade grave); pacientes usuários de drogas ou alcoólatras. A avaliação médica criteriosa deve buscar outros fatores que possam contra-indicar o procedimento, como a insegurança do paciente, dúvidas quanto a efetividade dos tratamentos para perda de peso prévios, entre outros.

TIPOS DE CIRUGIAS BARIÁTRICAS
Restritivos Limitam a capacidade gástrica Banda vertical ajustável e gastroplastia vertical
Disabsortivos Alteram a capacidade de digestão e/ou absorção dos alimentos Derivação bilio-pancreática, chamada de cirurgia de Scopinaro
Mistos Combinação de ambas as técnicas Gastroplastia vertical com by-pass em y de Roux; quando colocado anel é denominada cirurgia de Capella ou Fobi-Capella

A decisão da técnica cirúrgica depende das condições clínicas do paciente, gravidade da obesidade e comorbidades apresentadas. Em todos os casos o paciente deverá, obrigatoriamente, ter pleno conhecimento das características, necessidades, riscos e limitações de cada cirurgia. Ele deverá participar de reuniões com a equipe multiprofissional e com pacientes já operados para poder ter certeza da sua decisão. A equipe é composta por cirurgião, endocrinologista, nutricionista, psiquiatra ou psicólogo.

A avaliação pré-operatória deve incluir investigação clínico-laboratorial com exames de sangue, radiografia de tórax, ultra-sonografia e ou tomografia do abdome, avaliação cardiológica, endoscopia digestiva com pesquisa de H. Pylori. Se o paciente apresentar descompensação clínica ou diagnóstico de novas doenças a cirurgia deverá ser postergada.

O paciente inicia o processo de emagrecimento durante a internação, geralmente mantendo a perda de peso por até 2 anos após a cirurgia. Os pacientes com quadro de diabetes mellitus tipo 2 em sua grande maioria melhoram imediatamente após a cirurgia. Em muitos casos os pacientes recebem alta hospitalar sem medicações hipoglicemiantes. A hipertensão arterial melhora mais lentamente, devendo-se fazer a monitorização da pressão arterial até que se decida pela modificação ou interrupção da terapia medicamentosa anti-hipertensiva.

A alimentação na fase pós-operatória compreende várias fases, evoluindo da dieta líquida para pastosa e, depois, para sólida. Nesta fase a alimentação deve ser balanceada, objetivando o aporte calórico e vitamínico necessário. Ainda assim, a suplementação de vitaminas deve ser feita na maioria dos pacientes, individualizada e sob supervisão médica.

O tempo para o retorno às atividades habituais é variável dependendo do tipo de cirurgia, gravidade da obesidade e co-morbidades apresentadas, sendo geralmente ao redor de 30 dias.